segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Tempo


Tempo…
Invisível esse tempo quando gostamos.
De repente, o tempo deixa de ser tempo, deixa de ser hora, de ser sol, de ser tempo. Deixa de ser, apenas.
Na tua mão, não te conseguirás esquecer de mim.
Quero acreditar, como te lembrarás de um refrão que fica no ouvido… que me lembras. Que me vives, ainda.
Troca, dirias. Como se estivesses a ver teatro, do bom, comigo. Como se fosse num muro escondido, num livro lá longe em que nos lêem… como se o verde à volta fosse mar, fosse praia, fosse nosso.
“Oh Sara, anda para dentro que se faz tarde, agora que continuas ao frio, distante de mim”, disse-o...mas tu deixaste de me ouvir. Escondeste lá longe, onde ainda te vejo, carpindo a mágoa de me aquecer sozinho na fogueira.
E eu sempre ouço a música com batida brasileira, devagar devagarinho como diria o Martinho da Vila, batida suave, rosto descrito nas palavras dela, a cantora, que deixa um “zumbido” de saudade, de solidão.
Olhaste para mim com vergonha, lembraste? Achei o frágil engraçado, mas agora é tempo de seres forte. Foste e não vens. Foste e permaneces. Foste, simplesmente.
Brindarei com chocolate a tua ida. Brindarei com doçura a tua permanência. Brinda também!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Mudo!

Sem dramatismos.
Deixo a música tocar nos meus ouvidos. Ser a melodia do dia.
Um luta mais neste dia. Um veneno, dos bons, como o aroma do eucalipto.
Posso-te ter amanhã como ontem? Como eras anteontem?
Deixo a cabeça embalar com o ritmo crescente das palmas. As luzes, de um lado para o outro, dizem que são robôs que as mexem. E as caras, tantas caras essas, ao pé de mim, ao meu lado, à minha frente…
O fogo aproxima-se mesmo sem saber como é, como será, como foi.
O medo permanece.
Olho para baixo e nada vejo. É o tal buraco negro onde posso cair, o tal buraco de onde ressurgi, o tal que te assustou, que me assusta e que me entala…as palavras não saem, a mão não está presente, o caminho não é feito.

Sorrio. Com medo é certo mas sorrio.
Solto-me. Solto o ritmo das palavras que não saem e me deixam assim…
Mudo em ti, mudo para ti.
Mudo!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Ticket

Deixaste o teu coração ontem.
Não compliques Sara. Deixaste-o ali. Ao pé da cozinha como quem vai para o quarto naquela mesa que lá está, mesa de família…antiga. Talvez pensasses que estaria a mesa habituada a ter tantos corações por lá.
Deixaste mas nem um bilhete escreveste. Podias ter dito – “deixo-te aqui o meu coração. Podes tentar reanimá-lo. Ou então “ deixo-te aqui o meu coração mas guarda-o até cá voltar”. Ou então ainda “ Deixei-o na mesa onde devia ter deixado o anel de diamantes que me deste, mas o anel é mais caro”. Deixaste-o apenas.
Está fraco ele. Desde que cheguei que bate mais devagar, num compasso sem música, alternado às vezes. Parece Punk, depois uma balada. Ou devo-o comparar a uma música clássica com picos de histeria?
Está aqui Sara. Ao meu lado. Está aqui.
--------------
Que vou fazer com o teu coração. Que fazer se a metade de ti que me resta não é, nem um quarto de ti.
Podias ter deixado um braça, sempre podia ter metade de um abraço. Deixar meia dúzia de cabelos como habitualmente, a tua escova de dentes perdida por aí ou a tal garrafa de gin que tanto detesto… mas deixaste o coração. O tal onde pensei que permanecia e que olhando bem, não.
Ainda bate. Devagar mas ainda bate.
Quanto tempo lhe resta nas minhas mãos ? o teu coração vai morrer nas minhas mãos ? Só a ideia incomoda-me…
E o bilhete? Onde deixaste tu o bilhete?
Sara, se o quiseres voltar a sentir a bater por mim, o próximo que deixares, deixa com um bilhete.
Do teu…
Jorge

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Para que andar se posso voar?

Sou eu e tu que voamos, e tu nem sabes… nem tão pouco quem eu sou.
São sonhos, dirás…
Deixa-os para trás, vive a realidade do sonho. E voa! Voa. Digo-te!
À noite fica mais complicado conseguir bater as asas. Procuro nas tuas palavras a estrela que me faz brilhar. Procuro-a no teu olhar, no teu sorrir e só aí consigo ter força para levantar voo…
Bate palmas. Batam palmas. Marquem a compasso o ritmo da música, alternado com a voz de quem quer gritar baixinho… e sempre afinada. Com quem canta “TURN, TURN TURN”.
Nunca dizes, nunca dirás, que tens medo de voar… mas ainda não saíste do chão comigo…
Estou a reparar e nem consegues disfarçar, embora tenhas um dom confuso que nem tu própria sabes que o tens. Já sabes quem sou?
Continuo então a falar de mim, do dia, do fim de tarde, do jardim, dos óculos que escondem os medos expressos nos meus olhos. Leste-me agora? Já entendeste?
Deixo o sol entrar pela luz dos teus cabelos, prolongo a vontade de ficar moreno só com o teu brilho. E canto. E canto, sabes?
Pois, talvez não saibas.
Não me ouves cantar da mesma forma que não voas comigo. E tanta falta me faz que voes também comigo.
Muda.
Vá muda… Como uma música dos Train, James ou algo do género.
Vou continuar a cantar, a deixar que as palavras saiam da ponta dos meus dedos enquanto escrevo… e, sorte , não é em falsete!
Será que algum dia vais saber quem sou? Que te trago nos meus voos, que te levo sem medo de te perder, sem medo que caias, sem medo que procures uma nuvem para repousar…
Pronto, fica assim… vou levantar agora e voar. Vens comigo…



(Para ler...ouvindo)