segunda-feira, 29 de setembro de 2008



Carta imaginária

Na rua da Castela mora o Augusto. ( ver num blog sobre ruas e irmãos)
Por falar em irmão, o meu, conseguiu um dia descrever-me no seu livro “Biologia do
Homem”.
Está lá. É dele. E é bom.


Esta podia ser uma carta imaginária.
Podia ser e vou torná-la nessa tal carta que vos falo.
Falta o envelope. O selo. E o escrito.


Notóriamente crio a imagem de um Miguel. Talvez não um Miguel, mas o Miguel. E não tem nada de Esteves ou de Cardoso.

Calmo, reservado, que cria imagens como se viajasse à velocidade de um avião, fala de boeings e gosta de aeroportos.

Não consegue falar de cemitérios, de lamparinas ou somente de um badalar de igreja assustador. Não consegue ainda ver-se no pátio ou na varanda e ter “aquela” vista.

Repara em amores diferentes, amores perdidos, amores nunca antes esquecidos ou em amores que talvez, segundo os outros, nunca tenham sido amores. Por si só, acredita no amor.

Esse Miguel, descrito nesta carta, é um doce. Nao tão doce ou delicioso como as bolas de berlim do “Natário”, nem tão incostante como a sua fila onde se reza para que não se acabem. Aliás a sua inconstância parece a defesa de uma equipa de futebol, partida aos bocadinhos, mas com os postes e a trave a salvarem males maiores.

Cheio de ilusões concretizáveis, valores pouco dados por si, palavras rápidas atrás de mais palavras rápidas, velocidade estonteante de pensamento e certezas puras de quem o vê sorrir. Das poucas vezes que sorriu mesmo só porque lhe apetecia sorrir.

Com acasos no tempo, com espaços cheios de acasos não vividos. Miguel nunca será o segundo, nem o primeiro, nem tão pouco se deixará numerar. Miguel será sempre alguém que tentará estar presente, que sairá mais do que Augusto, preso por um físico que não o deixa viajar por medo, que não larga a mão com poderás tu estar a pensar, só porque ela não agarrra de uma maneira tão forte. Miguel viaja. São poucos kilometros da praia Norte até a uma outra praia perdida por aí, bem perto de um refúgio que só tu conheces. Miguel grita mas baixinho com palavras embebecidas na tua ternura, no teu olhar, quem sabe no teu estalo carinhoso.

Miguel não desilude porque a ilusão está no pensamento de cada um. A carta é imaginária, não é Miguel?

“Sorri Miguel”, diria alguém perdido nos seus braços. Deixa essa cara de lado e sorri Miguel.

Miguel esboçava um sorriso e diria “sabe-te sempre comigo”

5 comentários:

marta disse...

Eu já te vi.
Eu já conheci ESTE sorriso.
Eu já soube da tua doçura.

Eu acredito em ti e também acredito no amor.
E sei que o vais ter. E ser.

Com um beijo grande
M

Bombokinha disse...

Valeu a pena vir espreitar este cantinho hoje...;o)

Jorge Rita disse...

És um amigo de merda!foste comer bolas ao natário e não me convidaste???
Mas tu não és de comer bolas no natário...há aqui qualquer bota que não bate com a perdigota. e já agora o Miguel não o sobreiro que tem um movimento na net o "Save Miguel???"

Marta Araújo disse...

Belo texto e bom exercício de pensamento e escrita.

Bruno Marques disse...

O texto está bonito e tal, bem escrito e imaginativo. Eu gostava era de ter percebido. Mas sempre ouvi dizer que não se pode ter tudo!