quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Ticket

Deixaste o teu coração ontem.
Não compliques Sara. Deixaste-o ali. Ao pé da cozinha como quem vai para o quarto naquela mesa que lá está, mesa de família…antiga. Talvez pensasses que estaria a mesa habituada a ter tantos corações por lá.
Deixaste mas nem um bilhete escreveste. Podias ter dito – “deixo-te aqui o meu coração. Podes tentar reanimá-lo. Ou então “ deixo-te aqui o meu coração mas guarda-o até cá voltar”. Ou então ainda “ Deixei-o na mesa onde devia ter deixado o anel de diamantes que me deste, mas o anel é mais caro”. Deixaste-o apenas.
Está fraco ele. Desde que cheguei que bate mais devagar, num compasso sem música, alternado às vezes. Parece Punk, depois uma balada. Ou devo-o comparar a uma música clássica com picos de histeria?
Está aqui Sara. Ao meu lado. Está aqui.
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Que vou fazer com o teu coração. Que fazer se a metade de ti que me resta não é, nem um quarto de ti.
Podias ter deixado um braça, sempre podia ter metade de um abraço. Deixar meia dúzia de cabelos como habitualmente, a tua escova de dentes perdida por aí ou a tal garrafa de gin que tanto detesto… mas deixaste o coração. O tal onde pensei que permanecia e que olhando bem, não.
Ainda bate. Devagar mas ainda bate.
Quanto tempo lhe resta nas minhas mãos ? o teu coração vai morrer nas minhas mãos ? Só a ideia incomoda-me…
E o bilhete? Onde deixaste tu o bilhete?
Sara, se o quiseres voltar a sentir a bater por mim, o próximo que deixares, deixa com um bilhete.
Do teu…
Jorge

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